27 Noites
Francisco Silva
Não pagas nada? – questionou o Marco das borbulhas.
Zeca virou a cabeça com desdém, mirou o moço de alto a baixo e – Olha-me este… querem lá ver? Lá porque já tem barba semeada em dia de tempestade julga-se um Homem…
(…) és igual aos ouros, vocês são todos uns cabrões, recebem os dinheiros para se encherem e viverem à conta, eu bem sei e bem vejo, dão-vos os presuntos, os queijos, o banco alimentar dá para ajudar os sem-abrigo e vocês ficam com tudo, o zé-ninguém da rua que se foda!
Vamos ou não? – questionou Pedro
Nãaãão, tá muito cheio!
Cheio é bom para apalpar as ramonas
Eu fico, tu se quiseres vai
Vou pois, APERTA AÍ…
LARGA-ME! Eu agora sou comprometida, seu impotente da merda
FFF és tão boa
Larga-me já te disse, já tenho homem!
Sem que nada fizesse prever deu uma joelhada no dito sujeito deixando-o noutra órbita, afastando-se rua acima em direção ao Rossio, com a ligeireza que as suas chinelas verdes fluorescentes permitiam.
(…) sabes a minha verdadeira mãe nunca quis saber de mim desde bebé, foi esta senhora a quem sempre chamei mãe que me educou deu carinho fez de mim o homem que hoje sou. Não me era nada, teve pena de mim de me ver ao abandono em casa a chorar com fome ou com o rabo sujo e foi tomando conta de mim. Sem a minha mãe saber dava-me comida, chocolates e beijos, muitos beijos. Depois ficou comigo, tirou-me do lar de órfãos e tratou-me sempre como se fosse seu filho, nunca fazia distinção, depois por estupidez minha julgava-me crescido fugi de casa com uma mulher 20 anos mais velha. (…)