A minha guerra a petróleo
António José Pereira da Costa
[...] Quando me virei para ver quem era, ela disse:
– Meimuna pariu um fio qui tin dez dia. Quer pá nossarfere arranja mim lugar sintada.
Transportava nos braços, com grande cuidado, um enrolamento de mantas que de- veria conter qualquer coisa de precioso. Eu não vi o que fosse, mesmo quando mo emprestou, por alguns segundos. Acompanhei-a ao Unimog onde eu iria e ajudei-a a subir para o lugar ao lado do condutor. Encostei o embrulho ao peito e ela apoiou- -se, com dificuldade, naquela espécie de degrau circular que a roda tinha, depois no próprio pneu, usando o meu ombro como corrimão. Sentou-se no banco de lona e eu passei-lhe o pacote que deixou calor no meu peito.
O acidente ocorrido no Rio Geba, a 10 de Agosto de 1972 (quinta-feira), terá sido o momento de toda a minha vida em que mais estive em perigo, assim como todos os que me acompanhavam. Foi certamente um dos meus momentos de sorte. Mas outros houve... felizmente.
O Paiva sentado no chão, apoiando as mãos atrás das costas, uma das pernas inteira, mas a outra... apoiada pela tíbia meia-cortada e a pingar um fio de sangue. Ao lado a bota de cabedal com o pé dentro. Uma frase dita a meia voz:
– Ai que me dói tanto!