A Última Carta

"22 de Agosto de 2004. Faz hoje 50 anos. Levantei-me às sete horas da manhã para começar a escrever este livro que há muito tempo trago no pensamento.

Era domingo, tal como hoje. Na minha memória, foi hoje, e não há 50 anos. Foi agora. É nesta hora e nestes minutos que estou em casa de meus Pais, muito constipada. Mal passei a noite e já estou acordada para vestir o meu vestido branco, que levarei à Conservatória do Registo Civil (junto á Igreja de S. Vicente).Estava felicíssima por este grande dia, embora desgostosa por não me casar na igreja, aquela igreja tão bonita onde, com quatro anos, peguei na cauda do vestido da minha madrinha de baptismo. Sendo eu tão religiosa...Mas paciência. Fizeste-- me ver que, se por qualquer motivo as coisas não corressem bem, o divórcio era mais fácil. (Dir-se-ia que ou ias na incerteza ou o teu pensamento saiu certo...) Eu, imatura, muito nova, aceitava todas as palavras e sugestões saídas da tua boca. Amava-te loucamente. Foi paixão, que irá comigo quando partir para aquela grande viagem da qual nunca mais se volta, e que se transformou num grande amor.