Contar Histórias

Ao longo da minha vida procurei sempre não ser apenas another brick in the wall, fazendo coisas de algum significado. Claro que a maioria não teve qualquer relevância para a sociedade, para o meu país, para a minha rua, ou sequer para o meu prédio. Mas com o círculo de amigos que me rodeava mais de perto, não foi bem assim e muito menos com os meus filhos, minha primeira obrigação. As palavras de retorno que recebi do livro Poemas & Prosas são sinal de que não passei por cá, anódino, nem invisível, e que deram por mim. Isso deixa-me muito orgulhoso e com a noção de que valeu a pena.

Estes poemas que agora vos proponho têm mais trinta anos do que os anteriores, mas são, fundamentalmente, mais trinta anos de afetos, de vida, que naturalmente vos irão desafiar para uma leitura mais ousada, porque resultam de uma escrita, talvez mais complexa, caleidoscópica, como a vida que entretanto vivi, e são conjuntos de respostas a essas tais páginas em branco que o autor tem de decifrar, quando vos quer dar algo interessante para ler, vivenciar, fruir, donde resultaram experiências desencontradas, neste caso, guiadas por uma expectativa que se torna estruturante ao longo do livro: contar/ouvir uma história que existe, muitas vezes sem que se saiba onde, e que nem sempre se conta como se espera contar, ou se ouve como se espera ouvir. Umas vezes o objetivo foi entreter-vos, outras surpreender-vos. Umas vezes terei conseguido, outras não.

Por isso o Livro se chama Contar Histórias, e por isso nem sempre elas são contadas como eu queria, ou como eu esperava: nalguns casos as Personagens tomaram conta delas e determinaram-lhes o rumo, bem melhor do que eu teria feito. Mas a vida é assim. Por vezes fazemos coisas que acabam por nos fazer.