Contos Semibreves
Paulo Ferreira Pinto
Nos dias de chuva do mês de brumário, o cidadão responsável e cumpridor, depois de ter atravessado rapidamente a passadeira, tem necessidade de dar um pequeno salto sobre a sarjeta alagada para alcançar a segurança firme da calçada portuguesa. Atrás do kiosque,o toldo tricolor, debaixo do qual se abrigam algumas pessoas, dá a volta à esquina norte do quarteirão Joseph-Ignace Guillotin e só estanca no 1794.Puteiro Sans-Culottes. É fácil lembrar-me do número pois corresponde ao meu veneno predileto: GrandMarie Isidorede Robespierre, RareCognac, established 1794. Na pesada porta férrea dourada existe um letreiro prateado onde se pode ler em letras vermelhas garrafais: Cidadão do género masculino, sujeito e objeto da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, limpa muito bem o calçado ao tapete e certifica-te que abandonas aí a tua fé, religião e restante sujidade.
Em Tudo Bons Selvagens.
