Essa armadilha, o corpo

Rodivaldo Ribeiro

O curto conto Bênção talvez seja o melhor resumo sobre a literatura de Rodivaldo Ribeiro: Maldito é
aquele cujos olhos não conseguem –– ao perceber a alegria –– deixar de ver o quanto de dor
(sempre nova, mesmo tão antiga) há nos contornos de toda beleza. "Mas não é esse, então, o
caminho de tudo? Aproveitar o instante, saber esperar (e entender) que tudo, tudo há de fenecer?",
ela pergunta. "Não, antes o passo que o destino. Melhor é aceitar o amargo ao doce, pois sabor
forte não mente nem entorpece, ainda que fira. E muito; e eu prefiro as cicatrizes", respondi.
"Maldito és tu, a amar as coisas com coração de menino, mas a enxergar tudo com embaçados
olhos de velho; a ter aceso um peito aberto em brasa viva, mas a respirar e sorver nada além da
fumaça tóxica das chamas, com seus pulmões também velhos. E gastos". Ela não está errada.
Jamais esteve.
Trata-se de um pequeno compêndio de pessoas comuns às voltas com seus conflitos internos.
Infinitos em todos, mesmo que íntimo e único a cada um. Se há algum elo de ligação possível entre
os personagens, este se dá apenas na repetição de seus únicos refúgios e armas: seus corpos. Ora
magros, ora gordos, ora frágeis, ora gigantescos, mas sempre corpos, armadilhas de todos e de
ninguém.

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