Impermanências
Agnaldo Barcaro
Odiava tevê e homens convencionais. Para ela, o maior pintor era Edward Hopper, o homem que “pintava a alma”. Adorava Sartre e na cabeceira da cama tinha o retrato do guru Sathya Sai Baba. Seu poeta preferido era Rimbaud; no Brasil, gostava do Roberto Piva.
Uma mulher rara. Interessou-se por Antoine, um francês que conhecera no meio da selva amazônica, e começaram a copular.
Antropólogo, Antoine estava em trabalho de campo junto à tribo dosKaxinawás, no Acre, entre pesquisas e rituais indígenas com a bebida sagrada Yagé. Foi aí que Almalinda o conheceu, quando lá chegara para o ritual.
Pegaram malária, fizeram sexo sob forte tempestade tropical. Passaram horas arrancando os carrapatos que grudavam em suas genitálias. Subiram em árvores, tentaram pegar uma sucuri com as mãos.
– Você é louca – dizia-lhe Antoine, entre beijos e tapinhas no bumbum sardento.
(Excerto de “Depois da Podridão”)