Lembranças de um Bosque Esquecido
Ana Semedo
"Inspiro. Expiro. Fecho os olhos. Abro os olhos. Espero um sinal. Como não há nenhum sinal que venha, resolvo andar. Um pé atrás do outro. Confio nas minhas pernas, na intuição existente na minha locomoção. Mas o meu pensamento é um obstáculo para essa intuição a que aspiro e desisto por fim. Penso que talvez seja melhor voltar. Digo: "Talvez seja melhor voltar". Escurece cada vez mais e os leves sons que antes me embalavam tornam-se agora mais fortes e sinistros. Começo a andar mais depressa à procura de algum lugar, de qualquer lugar, já arrependida desta aventura psicótica. Ando cada vez mais depressa e provavelmente em círculos porque o que vejo é sempre igual. Corro por fim, para algum lugar, para qualquer lugar, corro até não poder mais correr, até não poder mais andar, até não poder mais estar acordada. Adormeço de exaustão."
“Lembranças de Um Bosque Esquecido” é uma oscilação entre o abstrato e o real. O Bosque, cenário, protagonista e alma, conduz a narrativa e revela-nos outras almas, possivelmente mais reais. De um homem simples e pouco ambicioso, a uma mulher a quem foi diagnosticada uma doença mortal, de um jovem com traços psicopáticos, a uma bela mulher que sofre de amnésia, todas as personagens parecem injetadas de uma força maior que elas. Paixão, obsessão, saudade, melancolia, medo e desespero, são as emoções que, passo a passo, os aproximam e nos aproximam da história. Caminhamos então com eles, pelo bosque, e por nós.
