Memorial das Flores

Ela deixou a mala na calçada e sentou-se naquele degrau que parecia um lugar seguro. Precisava de uma pausa para tomar fôlego. Ficar quieta por um momento. Pensar no próximo passo. Mas seus olhos cansados não a deixavam pensar. Rebelaram-se com o fato de continuarem abertos e escolheram uma maldita rachadura na parede para se fixarem. Ela sentiu que talvez eles tivessem razão. Era melhor abandonar-se, descansar, afinal o cansaço, quando chega, toma conta de tudo. Ninguém estava ali para puxá-la para fora do seu letargo. Este é um dos riscos de viajar sozinha: de repente frestas e borrões tornam-se a materialização daquilo que se sente e é preciso olhar para eles, olhar, enquanto o corpo respira. Depois de algum tempo eles continuam a ser simplesmente aquilo que se destinaram a ser desde o início: nenhum símbolo revelador, nenhuma porta secreta, nenhuma resposta, nenhum mapa. Só um alívio por encontrar fora uma imagem quase perfeita daquilo que se tem dentro. É só isso. O hotel ficava logo ali, dava para ver o letreiro.

  • Escreveu ou está a escrever um livro que quer publicar?
    Está no lugar certo! Na Atlantic Books estamos constantemente à procura de autores talentosos, para ajudar a transformar as suas ideias em excelentes livros.
Utilizamos cookies próprios e de terceiros para lhe oferecer uma melhor experiência e serviço.
Para saber que cookies usamos e como os desativar, leia a política de cookies. Ao ignorar ou fechar esta mensagem, e exceto se tiver desativado as cookies, está a concordar com o seu uso neste dispositivo.