Noutros Rostos

Filipe Marinheiro

Em preâmbulo, a abrir a obra, o poeta cita 2 mestres da poesia nacional, suas referências literárias: "peço por isso que um qualquer erro de ortografia ou sentido/seja um grão de sal aberto na boca do bom leitor impuro - Herberto Helder, em A Morte Sem Mestre", e acrescenta, "sinto que há uma estranha eternidade naquilo que amámos e foi destruído - Al Berto, em O Medo".  

"Noutros Rostos" rege-se, na essência, de forma diferente daquela gerada em "Silêncios", é um livro com uma coerência mais límpida e cristalina, e no qual se destacam pensamentos, sentimentos e linguagens que não estavam patentes com a mesma clareza ou pureza em obras anteriores. Deve-se talvez ao seu amadurecimento e evolução ao nível da reflexão, do seu estado de espírito e do lugar que a sua própria escrita poética conquistou.

A obra inicia-se com uma ode à mãe do autor, a todas as mães universais…

«e agradeço-te ó mãe bela por te deitares no ninho de lãs/coberta pela verdade assim escondo a ousadia/das visões obscuras e a beleza existente».

 Há, nesta magia poética do saber lidar com palavras, versos, ideias, pensamentos abstractos e reais, entre outros aspectos de sintaxe e gramática, um denominador comum: a arte de encantar.

O poeta separa corpo, alma e memória. Cria antíteses e descreve momentos. Trabalha espaços e salta tempos. Há analepses e prolepses no pensamento. E são esses recuos e avanços no tempo que criam a acção do eu poético e o movimento nalgumas personagens ou nele próprio! Os olhos descrevem destinos e o corpo acata as decisões ou não! A Natureza cruza-se com a beleza, a astronomia, o amor, o sobrenatural, o bizarro, o oculto, a solidão e a intensa melancolia com que sente as coisas à sua volta, voltando-se para si mesmo, mas também para fora. Uma melancolia sua por natureza mas também fora e dentro do sujeito poético.

Filipe Marinheiro transborda por entre os murmúrios – incessante – à procura da expressão viva, sonora e verbal, além-matéria escrita. Um espírito que, inteiro, seja o oposto de si.

A linguagem do poeta estanca agora todas as impurezas e outras certezas, no entanto sublima metaforicamente a poética e a sua mensagem.

"Noutros Rostos" é uma obra feita de solidões, melancolias, tristezas, mas também alegrias e felicidades conjuntas ao ser poético e à mensagem adjacente, face à corrupção, afastamento e encobrimento dos nossos rostos, máscaras que envergamos no dia-a-dia.

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