O Ar Cheirava a Pólvora

Manuel Ponciano

Cheirava-me ainda a sangue quando entreguei à escrita estas linhas. Fi-las passar pelas minhas mãos porque não se me afigurava que o véu em demasia toldado por uma guerra sangrenta não poderia jamais sofrer explicações.

O terreno em que esta guerra fora semeada era um terreno sem consistência e bastaria um grito que ecoasse por um horizonte carregado de nuvens a não querer desmanchar-se para que tudo se esboroasse.

Mas o grito tardava em ganhar forma, porque era de imediato sufocado por forças cuja tendência não era senão: “Lute-se até à exaustão, porque o ‘turra’ não tem razão”.

 A razão assiste ao colonizador que bem pretende o domínio em toda a linha: “Marche-se mesmo em frente aos canhões, como se o derramamento de sangue fora a semente que iria brotar em terreno semeado de corpos e queimado por um fogo mortífero”.

As feras amansam-se quando já suficientemente fartas. Mas o homem quanto mais sedento de sangue mais se quer atolar em pústulas.

Quem é este homem?

O homem que, a partir do seu bunker, comanda à distância as forças militares que não se querem opor ao veredito do chefe e buscam satisfazer-se com comendas que brilharão ao peito a que não conseguem dar, agora, resposta: “Homo homini lupus” (“O homem é um lobo para o seu semelhante”).

Que esta semente de revolta faça despertar as gerações presentes e vindouras para tomarem cada vez mais consciência de que não é com o derramamento de sangue do seu semelhante que a liberdade se conquista e a razão se alcança.

Que o “25 de abril” em permanência traga aquele grito que nunca se apague jamais: “A todo o homem, sem exceção, lhe assista a vontade de ser ele mesmo sem que nenhuma arma lhe seja apontada!”

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