O Escorpião de Lugano

Marisa Guaranys

Quando penso nos compositores que extraíram acordes do ruidoso silêncio onde se encontravam, compreendo que deve haver algo mais e que só eles ouvem. Porém, quando penso nos pintores e escultores que extraíram cores e formas do mesmo silêncio, embora embalados por uma música muito particular, então eu posso compreender que há um silêncio na música, uma batida a menos no coração da humanidade. E é precisamente por isso que tudo brilha: porque há uma gota d’água no coração da madeira, uma bolha de ar no coração da pedra, uma luz de estrelas no coração da noite, uma sombra de árvore no coração do dia,  uma imobilidade no coração da ventania, um calor no coração do frio, a luz de um certo olhar na noite dos sentidos, uma nota de tristeza no coração do amor, uma morte no coração da eternidade. Um eu no coração do nós. Um escorpião no fundo do lago.

    E é precisamente este arremesso de opostos que buscam nossos olhos permanentemente, que busca nosso coração aflito, surpreendido por aquilo que não poderia supor e que o retira momentaneamente da regularidade de sua dor de existir: o grito inesperado das coisas pequenas .

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