O Luto por Maria Mendes
Maria Mendes
Desperdiçamos palavras em vão, gravadas na almofada, presas no coração.
Desperdiçamos a ternura das noites de verão, o sufoco do inverno quando o
cinzento parece eterno. Foges sempre na madrugada que a noite é um ladrão. E é
quando mais se aquece a cama, num jogo sem lençol, onde fica mais presa a
alma, em cada canto de pele um anzol.
Queria uma folha em branco, um texto corrido, bem comprido, uma mão, não pedia
nada mais que uma história não em vão. Saísse assim a azáfama de palavras
descontroladas no vomitar das emoções perturbadas.
Queria mil e uma linhas mais, mas chegamos sempre aos tais pontos finais.