Órfão de Pais Vivos

Júlio Pereira

Baseado em memórias dispersas do autor, por aqui passa o começo da luta armada nos territórios ultramarinos, a perda do chamado Estado da Índia, as manifestações de apoio à política do governo, mas também as vozes discordantes, a audição das emissões clandestinas de rádio, os presos da Pide, a transformação da juventude a partir do fenómeno que foram os Beatles. Tudo isso se cruza com o drama afetivo de Carlos, dividido entre a família biológica e a de acolhimento.

Aquele, apesar de ser “filho das ervas”, tem oportunidade de viajar por Moçambique e Angola – que descreve - e observar a realidade africana, bastante diferente do retrato que lhe era pintado pela Mocidade Portuguesa e pelo Círculo de Estudos Ultramarinos onde militava, pelo que, à medida que se aproxima o momento de cumprir o serviço militar, as suas certezas começam a transformar-se em dúvidas:

“E ele? O que seria a sua vida dali em diante? Ele, que sempre lutara através da palavra, pela defesa do ultramar, que participara em manifestações, que pintara cartazes e paredes, vira-se agora na eminência de o ir defender de armas na mão ou de fugir. Quando estamos perante a imagem da morte as nossas convicções vacilam. Aquela guerra já durava há muito… E para quê? Até quando seria possível manter aquela situação, lutar contra os chamados ventos da história?

Ele, que se considerava um órfão de pais vivos, era agora também um insignificante peão do enorme tabuleiro da geopolítica mundial.”

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