Poemas à Margem do Tempo

Agostinho Fernandes

Mas, se me dão licença, eu explico:

acontecem momentos de poesia sem palavras

e acordos de palavras que nem sempre fazem poesia.

E por muitos derramamentos que sentisse

e as harpas arranhasse pela Terra de Sião

ela continuava arredia, nada querendo comigo.

Muito sangue, suor e lágrimas é preciso

para algo de inspirado surgir;

e eis que ela aí, como sereia distante, aparecia

bem resguardada de prosódia e sintaxe

no mar imenso em que se agitava.

Caminhando assim, como que sozinho,

entre a insensata multidão,

frequentemente acontecia

estar por ali e não estar

por estar bem longe dali.

Era preciso agarrar a ideia

cheia de vertigem e inspiração,

urdir o poema e calibrá-lo

como se dores de parto sentisse

ou com Vieira o texto excelso

do estatuário esculpisse!

Agarrado o poema, ajustado o tempo,

começava a interminável burilagem

e a titânica luta de ajustamento

das carruagens mais rebeldes à locomotiva

por forma a que o poema surgisse.

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