O Cachecol de Seda
Francisco Nunes
“Foram dias de um verdadeiro pesadelo. Nessa embarcação que fazia a deslocação da Beira para Quelimane viajavam apenas treze passageiros, mais a tripulação. Era um barco de carga que ia com muito peso e que enfrentou nessa viagem uma tempestade medonha que foi um autêntico inferno, com trovoada, chuva intensa e muito vento. A ondulação era enorme e o barco rangia por todo o lado, parecendo muitas vezes que se ia partir ao meio. As refeições tinham de ser no camarote e constavam apenas de bolos secos e refrigerantes, pois nada se equilibrava. A senhora que viajava com os filhos e que já tinha feito muitas vezes esta mesma viagem dizia que nunca tinha visto coisa assim. Lembro-me que as suas filhas choravam e que não tínhamos autorização para sair dos camarotes, nem sequer para espreitar. Foi uma viagem para nunca mais esquecer mas quis Deus que chegássemos à barra do porto de Quelimane, onde contudo nos viemos a deparar com outra luta...”